sexta-feira, 28 de junho de 2013

DOIS EMBARAÇOS

E na mesa, toalha enrolada, riso desgastado.
Satélites sobre suas cabeças de ar,
vírgulas na listas telefônicas
Sapatos virados ao lado da cama.

Um livro na cabeceira
Palpitar diário e seco:
Podridão dos pensamentos...
Medo, muito medo!

Azulejos amontoados,
cheiro fétido dos cordões
E mofo cozido ao vapor do box...
Iluminações indiretas no rosto.

Batom borrado,
TV ligada alucinada,
panela treme e água...
ferve, ferve e explode:

A explosão estremece o estômago dele,
Esfria a louça dela...
e no sono, sexo, livro, roupa, fuça...
espedaça o abajur no abraço.

ele e ela, ela e ele:
quarto abafado, lençol quente,
uma perna no ar
pesadelos incompreendidos.

A 28 de junho de 2013.

Em parceria com Isabel Helena de Almeida Albuquerque.

sábado, 11 de maio de 2013

LAMAÇAL

Por Carlos Eduardo Heinig.

Enrola o abuso e a cauda lisa:
Acumula entre musgos, um prato apresentável.
Enquanto me manténs em tua bula...
Enquanto aflijo-me com máscaras,
Aprimoras os fios tintos e as lãs.

E eu não aprendo a olhar as torres,
Nem os calabouços com o mesmo tato.
Nem as ninféias, enfeites do cabelo,
Nem ossadas de avicultores.
Apenas detenho-me numa roda.

E aplaudo, aos poucos, uma rumba laica;
Uma ponte cruzada e arabescos.
Mas tu, alivias as cordas do campo
E os ferros dos monastérios.
Um lodo entre os pés e plantas.

E da pluma, que sorve a samambaia
Atirada entre encostas vazias e cruas...
Inclino-me na sacada, esperando os morcegos
Que vem da eclusa e do povoado:
Admiro os lábios crus seus e deito nas tábuas corridas.
 
11 DE MAIO DE 2013.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Cabeças de Burro (ou Homens de Ferro)

   Por Carlos Eduardo Heinig.

   Indo à livraria, por esses dias, fiquei surpreendido com uma imagem: um livro do Paulo Coelho ao lado de Liev Tolstói. Para os leitores-de-fim-de-semana pode passar despercebido. Rapidamente, retirei o Best Seller de perto do clássico. Ninguém põe caviar perto do papel higiênico sujo... Mas, por que no Brasil, os leitores gostam tanto de ler esses escritores imbecis?
   Pesquisei rigidamente os leitores dos outros países e constatei algo único: eles tinham cérebro! Temos leitores no Brasil, quando muito os que leem "Paunucuelho" - que mal sabem ler. Saem de suas escolas Paulofreirizadas, totalmente imbecis. É a pedabobogia que influenciou nossas salas de aula. Com professores que sabem menos que um aluno do quinto, da França. Os caras escrevem "quizer", "faser" e outras injúrias que vou poupar o leitor que acabou de jantar. Quando muito, fazem aula de leitura em voz alta em sala de aula: leem um texto "selecionado" no livro "selecionado" pelo governo vermelho brasileiro. Em suma, não leem nada. Os profs. não pedem para ler pica nenhuma e querem saber por que o cara escreve mal; oras, basta verem as aulas que estão dando. Aí, então... No Ensino Médio, quando estão bem imbecis... mandam os alunos, os supostos mestres, ler Guimarães Rosa ou Machado de Assis. O aluno do Ensino Médio brasileiro não consegue ler Chico Bento, quiçá escritores consagrados que nem mesmo leitores decentes são capazes de destilar. 
   Terminado o Ensino Médio, é necessário comprovar-se a imbecilização por meio de uma prova... Ah, o vestibular. Cento e poucas questões que deixam o indivíduo mais idiota do que quando entrou a pôs o nome na primeira folha. Bom, tal prova solicita uma lista de 4 ou 5 ou 6 livros para LEITURA OBRIGATÓRIA. É mais do que claro que aluno algum vai ler aqueles "extraterrestres" - e com razão. Como vai saber aquelas palavras de difíceis de grafar, de entender e de soletrar. Cadê as aulas de leitura da tia Odete? Oras, dentro dos livros do Freire... Eles vão aos famosos resumos que qualquer outro imbecil saído anteriormente dos manicômios escolares  e já imbecilizado pelas provas fez.  Como nem mesmo os corretores das provas de vestibulares leram as LEITURAS OBRIGATÓRIAS um resumo superficial está ótimo. Basta saber o nome do livro e o autor. 
   Meus caros, Paulo Coelho é um colírio para anódinos: linguagem fácil, pensamentos pseudo-intelectuais e inteligência diminuta. Tudo o que um leitor-de-fim-de-semana precisa ter. Vai à livraria e gasta 40, 50 reais em um livro que não deveria custar 5 pila na tenda de quitutes da praia. 
   E aí, então, lembro-me de um comentário que vi pelo facebook, em que vários estavam discutindo o valor intelectual do novo filme do homem-de-ferro. Ora, o mesmo valor intelectual de Paulo Freire. Só que com um gosto mais norte-americanizado, se é que me entendem. Se brasileiro não entende de livro, vai se meter a entender de cinema? Bom, de blockbuster dos EUA qualquer um entende. Até eu sirvo pra ser roteirista. Então, caro amigo Janer Cristaldo... peço-lhe encarecidamente... não perca seu valioso tempo discutindo com cabeças de burro que perderam seus corpos em vídeo-locadoras ou em sessões de auto-ajuda da livraria. Entenda, que não são todos que sabem distinguir música clássica de erudita. Muitos menos, de criticar Paulo Freire. Uma vez que ele é o "patrono" da educação brasileira. E vendo o jeito que a educação e leitura por aqui está, vejo que isso esteja mais que comprovado. 

quarta-feira, 24 de abril de 2013


SDG

SONETO I

Guardai todo medo no meu colo,
Beijais minha fronte com teu pranto,
Enxugas teus lábios envolta do meu manto,
Plácidos lábios, que todo domingo namoro.

Bebo de tua paixão, que toda manhã devoro,
E de tão pouco, devoro tanto,
Esqueço-me do teu choro, consolado de encanto,
Que nem sei mais se sou ágil ou se demoro.

Escondidos entre teus braços, avisto o paraíso,
Recompondo os velhos hábitos de pastor,
Escapo, só, escuto o rebanho do teu riso,

Não sou pois, levante, teu senhor,
Nem o mestre dos teus pentes, sou granizo,
Que quebrou as vértebras consumidas do  amor.

Carlos Eduardo Heinig.

A 23 de abril de 2013.

domingo, 24 de março de 2013


BOXE NO SANTUÁRIO

Que aquelas encostam subtraiam as nervuras das folhas,
E que eu suprima as falsas folhas secas no chão:
Porque a minha suposição é fraca...
E quando vejo o fulgor das calças que vestes,
Me enclausuro numa fita roxa e palha lívida.
Me comporto como um estranho em tua recepção.
Cortas com lâmina luminosa a cor e a robustez da nervura,
Apenas pisoteio o que estava sólido e pálido,
E que não me importo demais.
Porque parar é viver.
Porque solução é uma anunciação do povo!
E me lavo de lama, e me importo finalmente...
O plano da difusão é confuso e lavável:
- Uma (des) tragédia.
Roco fios e choro, até nada mais sobrar e me visto,
Que a tua nuvem seja tua capa,
E que teu rosto seja um bordado,
Olhos de ametista, e parado – teu rosto –
Não sinta!
Porque é faminta a infância,
E plumosa a falência.

Trata-se de um ringue solúvel...
Uma sentinela bêbada,
Que beija espuma do mar,
Apaga o abajur à noite,
E não se comove com fiandeiras,
Nem maquiagem,
Nem maçanetas que abrem as portas fixas do chão.
Mas o poste cantando fados me explica a nervura inconsciente,
Me responde o que nada me assistiu,
Me calça a luva que nunca costurei.
Mas no mosteiro há alas de ferro bruto?
- Há um candelabro que acende aquários
E uma resina que desintegra soluços...
Que rebanha clientes,
Que engloba cristãos,
E que mistura plebeus com água doce.

Eu acaricio tuas crinas de cavalo!
Sou carinhoso à medida do possível.
É o meu ensino aos escudeiros...
É a minha força aos enlouquecidos,
Uma regata aos barqueiros, sobras de comida no convés.
E no altarzinho de palha,
As sombras de água são removidas com acetona,
Olho as palmas da mão e vejo graxa:
Temível terra adormecida!
Cheia, com o balde cheio d’água,
De passarinho que colide no painel telefônico,
E que inala sombrinhas de rio.
E nesta sensível lividez detenho os ruminantes,
Eles não podem comer do fio sacro, nem a lanterna...
Têm fio de azougue reclinado no pescoço
E farinha imbuída de vestir,
Apenas a triste e eterna sensação do esquerdo:
E do eviscerado.
E naquela causa de barro,
Todos ajoelham e mastigam ao mesmo tempo –
Apenas pedindo e adiantando o relógio
Para o mais vir inalcançado...
E o que mais queremos é a vitória depenada.
E latir para os novelos de lã,
Esperando urgir de ali, o nó e a lista
Que a sentinela jogou fora,
Totalmente demaquilada.

24 de março de 2013.




sábado, 23 de março de 2013

O INCOMPLETO



A convite, por Carlos Eduardo Heinig.

          Eu vi que já passava da hora quando ela se encolheu e fechou o casaco. Tudo estava amarelado do lindo sol que fazia. Mas o inverno tornava o ar gelado e cortante. A nossa ideia de tomar chá ao ar livre com aquele frio foi extremamente insensata, eu sei.
          - Acho que o vento não deixará concluir-nos o programa.
          - É realmente uma pena, o chá está tão quentinho, ele desce limpando minha garganta. – comentou ela, desviando rapidamente o olhar.
          - Já são seis. Estamos aqui desde às quatro.
          - O tempo voa quando estamos perto de quem gostamos.
          Ela levantou os olhos e não entendeu se eu falava sério ou se estava brincando de alguma maneira. Decidiu entrar na brincadeira:
          - Com certeza. – falou-me rindo, de maneira debochada.
          - Com certeza. – disse eu, escondendo meu sentimento.
          - Preciso ir, rapaz.  Minha mãe foi trocar a roupa da cama, quando o móvel simplesmente desabou. Preciso encontrar antes da noite um marceneiro.
          - Conheço um que trabalha muito bem. Fez para mim uma maldita mesa de telefone que eu havia desistido há tempos de procurar nas lojas. Indicaram-me este homem e fiz a mobília com ele. Simplesmente, o acabamento é perfeito! Perto de páscoa, mandei reformar meus móveis de meu dormitório. Ficaram deslumbrantes, quer conhecer?
          - Ah, seu insolente! Quem você pensa que sou? Uma moça qualquer?
          - Não. Não. Não era isso que eu quis dizer...
          - Mas foi justamente o que entendi. Vou-me embora.
          - Espere. Tome este endereço. – pus em suas mãos. Ela sacara com força e com uma olhar pernicioso.
          - Pois bem. O chá estava ótimo. Obrigada pelo endereço. Passar bem. – Falou-me rispidamente.
          - Passar bem.
          Do alto de minha casa, vi o corpo saindo portão afora. Seu vestido era simples e suas atitudes providas de um ar requintado – Uma perfeita dama. Pois quando olhei de volta, estava ela adentrando o portão. Sorri, achando que a sorte era comigo.
          - Vim buscar meu batom. Esqueci-o sobre a mesa...
          - Pois muito bem. Deve de estar lá. Eu não passei pela mesa do chá. Fui direto ao segundo andar.
          - Pois aqui está!
          - Muito bom, moça.
          - Até mais ver.
          - Até mais ver.
          Servi-me de mais uma xícara de chá. Estava gélido. Travou minhas bochechas e minha língua. Larguei minha xícara e – num relance – olhei a que ela deixara sobre o guardanapo. E realmente constatei que se tratava de uma aliança, no fundo obscuro preenchido com chá preto. Tomei um bilhete e escrevi “aceito”. Pus a aliança em cima. Assim que buscasse haveria ela de achar meu bilhete.
          Mas a noite surgiu, os ares esfriaram ainda mais e minhas esperanças também. De forma que me deitei.
          “Será ela está ansiosa, esperando uma resposta minha? Ou acha que eu ainda não achei. Pois achei. Está entre meus dedos. Vou calçá-la.” – pensei.
          Aquela foi, talvez, a única noite em anos que dormi bem. Estava tão sorridente, tão ansioso por um bilhete vindo pela manhã... Despertou-me uma ânsia fortíssima em ler algo de Ovídio. Como “A arte de amar”... Mas o volume o havia emprestado a um amigo e vizinho, igualmente à procura de um verdadeiro amor. E de como conduzi-lo. Esqueci-me e dormi.
          Mexia fortemente a xícara com o café. Cortei-me uma fatia de bolo. E a cada mastigada eu pensava em Ivone. Tudo isso me parecia um clichê já saboreado por cada personagem de Shakespeare. Cada carta de Werther e cada soneto de Camões. Tanto se fala nessa repetição desenfreada nos livros, nos poemas, nas esperanças; embora, quando se vive – a condição é de um momento completamente inédito. De uma boa-agonia tão suprema, que lês tu Camões como qualquer existencialista, saboreias as letras como as de um livro recém-lançado.
          - Sr. Nelson?
          - Diga, Lucinda.
          - Acaso viste algo de anormal ontem, no chá?
          - Não, nada. Apenas as pessoas de costume. O de costume...
          - Pois a maldita Rosana deu fim em minha aliança. Recém-separada do marido, disse-me que o casamento é algo a esmo. Um ato louco. Uma bobagem. Todavia, gastei uma pequena fortuna no par de alianças que comprei. Meu marido trabalhou o ano passado inteiro embalando vaselina para pagar as prestações da peça. Se eu fosse o Sr., demitiria essa mulher. Acaso viste?
          - Não. Não a vi. Pode ter vindo na toalha embrulhada e quando aberta, para ser estendida sobre a mesa, caiu sobre a grama. Alguém a pisoteou e ela se ocultou. Assim que cortarmos a grama, peço ao jardineiro para procurar. Não deve ter ido muito longe. E quanto a Rosana, verei o que farei com ela.
          - Obrigada, Sr. Vicente.
          - Oh, disponha. – falei. Comi duas fatias de presunto e olhei para o resto da mesa, sabendo o quão certo seria que não dormiria mais uma noite.


23 de março de 2013. 

domingo, 17 de março de 2013


27

(Dionísio Odeli)

Eu paro no sentido avesso,
Recupero o jornal.
Ajoelho nesta poltrona.
E ouço, no Mali, os lisos colares.
Ouço trompetes sugeridos
E apertos de coxa.

Eu paro no cobertor, na pulseira,
No laico esqueleto, caído na gaveta
Faminto e arreganhando a cortina
E lambendo os rejuntes do piso.

Encontro na farpa na janela,
Crio lixas de unha
Bancas de rosto, de revista e
Lato, voltando lado certo.

17 de março de 2013.