sexta-feira, 28 de dezembro de 2012


O BOICOTE DAS AURÉOLAS

O estabelecimento está fechado!
Me afobo com a cinza e com o acesso...
Cuspo meio  débil a casca de castanha,
Declaro meu amor por Maria
Com poema e entonação ... que ela não escuta.
Gaguejo o plano ao rato molhado
E espero por ela.
Enrubesço com estima sintético
Ao sabor de torrada,
Encontro turmalina minha de vidro
Em teus dedos.
No internato, cuspo duas auréolas.

28 – 12 -2012

O APITO DE ODELI

Quero anunciar meu fracasso!
Quero assoprar meu apito aos cachorros...
Eles.

Escrever em papéis avulsos que se perdem
E ignorar os cadernos...
Incinerar os flancos
E abominar as rasas...
Porque as rasas afogam os cachorros:
Eis a coleira...
A coleira de ramo de louro!
Que abdicar do apito aos cães
Porque o sólido se desfaz
Em colunas altas e retorcidas
Pena que os cães não olham para cima
E se deitam abaixo das colunas
Sem ver as abóbadas...
Estouro o flavor do ar com o apito
Que ecoa nas abóbadas, no silêncio...

Quero anunciar meu fracasso:
Ajuntei cães cegos embaixo da abóbada
Que não entendem meu apito...
Soltei-os e eles latem para mim
Que pena!!!
Não ouvem nem seus latidos
E tomo café cremoso:
Expulso do lar as pulgas dos cães surdos.
E penduro em seus pescoços o apito...
Que tentam arrancar e desmerecer.

Quero lamentar meu fracasso:
Sou um péssimo treinador de cães!

28 – 12 – 2012

(Por Dionísio Odeli)

domingo, 9 de dezembro de 2012


A CARTEIRA NO PRATO

E a velha Clementefalida?
Ainda mora no 222?
Requenta a sopa de sexta e liga o aspirador?
Não ouve música e se alucina com chá?
Fascículos de revista velha...
Sabão em pau e querosena.

E fui ao restaurante: pedi filé e salada
Me veio uma carteira e um lenço
Chorei com um lenço e bati aquela carteira
Com soluços, resumi toda crise...
E com prantos, comi uma nota de cinqüenta!

21 – 11 - 2012

terça-feira, 4 de dezembro de 2012


UM DEDAL

Até quando você vai esconder a cesta?
Romper esses rumores e ameaçar minha crias
Com salitre e novelas?
Tudo mais é aceitável...
Menos o auxílio ao crespo.
Forámens encrispados
E riscos nos vidros ensopados.

Sua audiência abissal:
Gritando valores de feira,
Preço de tomate e alecrim...
O tomate é nosso!
É a fuga verbal.
Venha comigo mestre...!
Alcance a calculadora,
Limpe a vidraça,
Pode o bonsai...
Mas o tomate é nosso

E quero que venhas comigo
Aferir minha pressão
Consultar a lente dos óculos
E ver a acunpuntura do chacra invertido.
Ao cimento e à poeira:
Um pronome heteroafável:
Um conjunto vazio e uma esfera antropocentrista.
E uma pedra filosofal.
Aguarde na fila:
Opere um milagre,
Enfrente o agiota,
Dissolva a queratina
E quero que venhas comigo!
A grande ausência do pigarro
Faculdades mentais atrevidas
E provérbios incinerados
Num aquário geopolítico.
Perfeitamente:
A ternura equivocada
O despeito ambulante
A floresta florista
E os alqueires dissimulados
Com bancarrotas afastadas.
Eu quero que venhas comigo
Sem ameaças e cabelos compridos
Por cima dos ombros...
E sapatos grandes para andar desajeitado
Numa parábola dissonante ao erro mediado
E meritocracia às avessas do comer...
Chefe-mestre... mercado consumidor 01.
Esbofetear planilhas
E soluçar soluços alcançados
Por distintivos de bronze.
Agora não quero mais que
Venhas comigo.

04 – 12 – 2012

sábado, 3 de novembro de 2012



Fui desmentido pelo pára-cristão...
Sei que você voltou, minha donzela...
Que ainda gritas meu nome, paixão.
E que me revolto longe de ti, na janela:
Olho a noite sem lua...

E teu corpo sem roupa, cabelos molhados
Abraçá-la com risos e pele nua...
Seremos, esta noite, os belos namorados.
Junto aos teus olhos caídos, sedutora...
Vestido rasgado, minha cigana...
Sois do meu rebanho, afável pastora
Diga logo, diga logo que me ama!

quinta-feira, 1 de novembro de 2012


INSTANTE SEGUIDO DE OFERENDAS

Eu quero que alguém me devolva o fumo de rolo que roubei...
Não é justo, estava no anúncio do jornal!
E eu me esqueci do papel em casa.
Flacidez do papel queimando no rosto do boneco.
Fidelidade dos augustos isqueiros talhados,
E o propósito simples de fumar.

Queimar os dedos no esperma macio do deus tarado:
Almejar alfinetes na calça do jornaleiro:
- Extra, extra; deus usa calças pantalonas
E dorme conchinha...

- Mas, eu não acredito!
Eu faço isso...!
Parcos ferimentos no fígado
E aldeído no sangue quente
Da boca do deus embriagado e inconstante
Numa sala de aula, em cima de uma banqueta de boteco...
Conversando com o compadre desentendido e fodido
De vender calças retas e de boca fina.
- Hoje não, compadre!

01 – 11 – 2012

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

MAIS DOIS DEDOS NA CINTURA

Tratando dois calos na unha de baixo...
Um pingo de limão no olho.
As moscas penduradas nas molduras da
escrivaninha que serve de mesa pra comer.
O duplo silêncio dos dois quadros,
Arrojando o carrossel de mesquinhos açougueiros.

A métrica do olho é desgraçada.
Engana os dedos e as oficinas...
Apalpando um amor desconsiderado
Por outro amor...
O flagrante do homem obeso fumando cigarros.

Cigarro de alface é desgraça,
O mundo se traga por ele...
E pela cintura fina e consumida.

29 - 09 - 2012.


sábado, 6 de outubro de 2012


PARALELOS

Sou campeão!
Meu grande medo é ficar num canto...
Comendo algodão doce
Que nem é meu.
Estou apenas segurando,
Ouvindo, chorando.
Fico aqui, fiz dois riscos no chão...
Fico pulando de um lado para o outro,
Esperando você.

14 - 08 - 2011

domingo, 23 de setembro de 2012

OS SÍMBOLOS E O TRIO

Três ou quatro novidades dos operários
São alojados nas horas e colheres
Enquanto se fala das esquinas e experimentações,
Anuncia a consulta e a assinatura dos botões.
Atormentados fragmentados clãs e facções,
Genuínos, alavancados reinos fétidos.

Tome a mão como cabina telefônica
E a clavícula como incenso e sabonete.
O faro, a aldeia, enquanto se come...
Se fala das sete tribos alojados
Na crina do rio.

20  de setembro de 2012.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO

(Dionísio Odeli)

Harmoniosos os porta-copos...
Em que prestei meus serviços
De joelhos.
Aconselhando os pratos
Que tu jogaste no lixo
E me conferi,
Ajeitando as saladas
E os molhos.
Convertido numa pataca.

O raciocínio do osso fálico
Incrustado de crustáceos...
Assoprando o cepilho
E fermentando a cerveja.

Os chaços estão conservados:
Vá-te e pegue a damascena!
Afile a corda e procure
A crina do cavalo e faça
Um exame de urina nele:
- Amarelo-sol.

20 de setembro de 2012

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

OS DESMARQUISMOS DO MAQUINISTA

(Por Dionísio Odeli)


Ô maquinista, desta cafeteria,
Passa logo meu misto-quente...
Não fique acariciando esse teu relógio
Que tenho pressa: Surpreenda-me!

Um copo de gim também pode ser...
Mas não disfarço: assumo meus ponteiros
Enquanto me aliso.
Veio sopa pra mim, e não quero,
Mereço coisa melhor,
Mereço...
Apoio os cotovelos no cano de aquecimento
E tu boceja, deitado na cama de palhas.


17 de setembro de 2012.


domingo, 16 de setembro de 2012


DUAS SAÍDAS NO MESMO DIA

A estas criaturas de trinta anos...
Me pergunto onde risco os fósforos,
Onde está a quitina afoita
E os balanços amargurados
Apoiados em, em algum dia.

A preciosidade é o cálculo renal
Que carrego nas costas...
E a manta de lã que larguei dos ombros
Não é este calor que quero...
Nem um beijo
Apenas salitre do Chile para lavar as mãos.

16 de setembro de 2012

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A JAZIDA DE LIMÃO

(Carlos Eduardo Heinig)


Tu que foste minha caricatura por tantos anos,
Por que me dispensar agora?
Por que desfazer a inimizade?
E laçar os peixes com favas de baunilha.
Não te entendo...

Abençoa os clipes de papel 
E dê aos mendigos para eles,
Para que afaguem um metal vil.
O metal dos meus estômagos
Espalhados pelos dedos.

Tu foste minha amora...
Te mordi e os lábios logo vermelhos
Foram frapês de amianto.
E caucasianos azedos
Nos guetos estendidos por brita
A brita fresca dos teus peitos,
E os cânceres dos teus brincos.


14 de setembro de 2012.




sexta-feira, 7 de setembro de 2012

PEQUENOS, SOMOS FALIDOS

Minha criatura derrubada
Por um manifesto...
E associada ao suco de laranja
Cozida no não-me-quer
Das lojas de foguete.

Vou me conformando
E aproximando-me dos vidros.
Digerindo dois goles de aguardente,
O sofrimento computado,
A paciência oprimida pelos armários.
Até o dia em que fui para o hospital
Cuspindo osso.

06 de setembro de 2012.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A NONA PARALISIA

(Carlos Eduardo Heinig)

Os dois sobem no monte artificial.
E vão derrubando um ao outro,
Alojando normas e alqueires
E desmistificando o tudo mais.
Anistiar jornais para eles...
Que, no fundo, nem sabem ler.
Essa parede de mundo não sabe
Conquistar dois guarda-chuvas.

06 de setembro de 2012

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

OS TERÇOS DE CARIDADE

(Carlos Eduardo Heinig)



Em tempo do mim se compadecer,
Chupar dois gomos de mandarina,
E enervar os clandestinos ultrapassados,
Vou posicionando dois tagarelas
Em cima do poste,
Para o choque elétrico ser mais barulhento.

05 de setembro de 2012
AFINAL


(Carlos Eduardo Heinig)

Dois metrôs-linha
Passaram por cima do meu pé.
Aglutinantes nos olhos,
E eu esperando as unhas estourarem.
Que sonho em vão.

05 de setembro 2012

terça-feira, 4 de setembro de 2012

OS CANIBAIS DAS ROCHAS

O meu eu se confere há tempos,
Vai contornando gengivas
E lençóis inexpressivos...
Derrubando meus corpos em molduras
Equilibradas pelas mãos de uma mulher
E a parede se engana ao me soletrar.

Dois grandes planetas esfomeados 
E uma mulher usando um cotonete
E correndo atrás de mim...
Uma rede reabsorvida pelos eventos
E criteriosa enganação entre os meus dentes.
Mas, tu, que me condena...
Experimenta a rodela de limão
E usufrua do anoréxico palato do teu anel.

04 de setembro de 2012.


domingo, 2 de setembro de 2012

A DOR ESTURRICADA DO TER

As claridades esfomeadas do cinema,
Duas cotas mal cotadas no empório.
Sabão em pó na fonte e 
Luz do poste queimada.

As inflorescências indeterminadas...
Duas serpentinas caídas no copo d'água.
E a espera por algo mais excitante que o sol.
E algo mais excitante que o supérfluo trevo.

As agonias dos querubins de roupa de bebê
Num posto de gasolina enchendo um balde
Com o álcool para beber uns goles na estrada.

E tudo mais improvisado no vaso de flores,
As alianças no com com água mesmo
E os olhos com barba por fazer.

02  de setembro de 2012.

sábado, 1 de setembro de 2012

Meus caros leitores,

Quero indicar o meu mais novo blog de resenhas literárias nada convencionais. Habituem-se a vistá-lo.
Sempre haverá livros de todos os modos comentados por mim. Gosto muito de ser a cobaia e ler primeiro, depois indico expressamente aqueles que mais gostei.

Segue o link:

http://www.carloseduardoheinig.blogspot.com.br/

Obrigado.
ANOMALIAS

( Carlus Gehin)


As luzes daquele poste
se aproximam do cadarço.
E vão mostrando a merda que é.
Comover-se. Buscar-se!
Masca um chiclete
E joga no lixo
Esperando que algo bom te salve.

Mas não espere do si,
Um criado satisfatório
Cuspa no chão e pise em cima
Para garantir segurança
dos algemados
E limpar os pulmões
Dos vagabundos encrenqueiros.

30 de agosto de 2012.


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A PERNA COBERTA




   Ela se ajoelhou diante do pai. Não falou nenhuma palavra. Apenas olhou o homem fixamente. A tristeza e um certo momento de revolta... Parecia que ela carregava uma cruz que o pai desaprovava. Ele vestia um terno cinza e tinha a barba estupidamente feita. Esquecera de alguns fios. Havia um certo relaxamento. Uma conduta estranha. E o rosto cheio de rugas da velhice. E, de fato, o homem estava velho. Fumava um cigarro e olhava para moça com desdém. Ia comprimindo os lábios. Até que ela não aguentou a pôs-se a chorar. Naquele momento, a tarde era fortemente ensolarada. Era coberta por uma intensa luminosidade. Uma força que fazia os dois discutirem de olhos fechados, ou quase fechados. Semicerrados.
    O calor da tarde entrava pela casa. Ele suava e se enxugava constantemente com um lenço. Causava certo nervosismo na filha. Vez por outra, ele tirava o pano do bolso e passava nos lobos da cabeça suados. E se remordia pensando e olhando para a filha, como se tivesse uma visão interna. Como se não soubesse que a filha estava apaixonada. Na verdade, esse era o seu medo... a filha apaixonada pelo homem estranho da cidade. Quem diria? O corpo era vestido do terno cinza que tinha manchas cinza-escuro do suor. Coçava a barba. A filha não se ajoelhava mais. Viu que de nada adiantava. O pai não lhe dava ouvidos. Era um homem rude. Não compreendia seus sentimentos: nem o pai os da filha; nem a filha os do pai. E aquela conversa nunca chegaria à vã resposta.
    Ela queria casar. E o pai não aceitava o homem que ela escolheu. Ele era estranho e não foi feito para filha dele. Era o que ele queria falar. Falaria ou não? Não, ele não falaria. Era um homem rude, mas faltava-lhe coragem. Às vezes, sentia uma piedade das pessoas que não pertencia naturalmente a ele. Era algo para si, sobrenatural. Uma inconstância acreditar em si mesmo. Ir se desabafando, em meio à noite com seus soluços. Discutir com os maiores medos. E estar sozinho. A viuvez lhe foi um golpe na nuca... um machucado que não sararia. Mas ela não fazia falta... sua companhia era única coisa que lhe faltava. A velha já era fria sexualmente falando e não fazia a menor diferença na cama. Porém o costume com um corpo a mais, um calor a mais nas noites frias... sua filha tinha que arranjar uma companhia para não morrer sozinha que nem ele. Mas precisava ser uma companhia daquelas? Uma figura quase que caricata? Estava assim, tão desesperada que precisasse arranjar qualquer partido?
    A moça que, no começo, estava num clima de tensão, levantou-se de onde estava e se serviu de um cálice de licor. Ofereceu ao pai que, obviamente, recusou. O clima estava horrível, mas ela não revelou. Bebeu em largos goles o absinto, recompondo-se na cadeira. Cruzou as pernas e olhou diretamente para o pai:
    - Por que não?
    O pai enxugou a tez com o lenço e abaixou a cabeça. Tirando um cabelo que estava solto em sua cabeça. Pigarreou, mas não sabia o que dizer. Levantou-se, ajuntou uma moeda caída no chão da sala e então se serviu de uma dose de licor.
    - Por quê?
    - Sim, por quê?
    Ela olhou-o firmemente. Ele, por sua vez, deu uma risada alta. Fechou os olhos para sorrir e enxugou o buço desta vez. Tirou a revista de cima da poltrona e sentou no lugar dela.
    - Você que vou deixar minha filha casar com um aleijado? Que nem mesmo pode trabalhar e prover o sustento da família- riu-se de novo.
    A jovem se calou. Confirmou que a vergonha dele se acabara. Ele iria falar... O pai se serviu de oito licores. Estava começando a se embriagar. As palavras já eram desconexas. A filha nada entedia o que ele dizia. No décimo absinto, ele estava de cócoras caminhando pelo tapete da sala. O suor escorria-lhe pela fronte suada. Tinha delírios e chamava pela mulher morta.
    - Tudo isso, por quê? Porque meu futuro genro não tem uma perna. Ele é um inválido, meu Deus. Não consegue nem caminha por si. Minha filha vai virar escrava dele. Vai ter de carregá-lo. Que vergonha, meu Deus! Que vergonha!
    A filha viu a vizinha passando pela estrada. Convidou-a para entrar, a outra moça entra envergonhada. A filha puxa a moça, abraça e dá-lhe um longo e demorado beijo na boca. Param para respirar e se beijam novamente. Desta vez, de forma mais profunda e mais demorada. As duas se entreolharam. As carícias no rosto, as passadas de mão...
    - Minha filha é um sapatão desgraçado! Largou um aleijado inútil para se agarrar com a vizinha lésbica!
    As duas se beijaram de língua, se abraçaram...
    - Vem, vamos passar um café. Quero te contar uma porção de coisas. Deram-se as mãos e foram. O velho enxugou a fronte, teve um ataque de tosse e se serviu de mais uma dose de licor. Tremia veementemente... aquele dia, definitivamente estava quente e agonizante.

30 de agosto de 2012

domingo, 26 de agosto de 2012


OS OLHOS ENCOLHIDOS PARA TRÁS

E na crise mais escamada fica a luminária,
Junto da despreocupação dos marinheiros.
Os prometidos grampos de roupa
Jogados no balcão esquecido no piano.

As horas satisfeitas pela sinuca...
E os aumentos infelizes das auroras
Esperando flores no chão do capô do carro,
E pássaros brigando contra o espelho.

Óculos vermelhos em cima do nariz...
As vistas esmaecidas na mesa com papel branco.
Os copos espalhados nas paredes com o
Auxílio quase-morto dos ouriços do mar.

Acompanhados pelo enxugador dos copos
E das ilusões da cegueira...
E das valsas noturnas...
Um prato criminoso na estante de porcelana.

10 – 08 – 2012

sábado, 25 de agosto de 2012




Uma canseira, de amores mal resolvidos...
Formas cheias de poeira, anciães são os cupidos.
E o subproduto é um deprimido na praça,
Ouvir dos pombos grasnidos, vestir-se cheio de graça.
Amanhecer tão medonho, ver-te sem minha figura...
Parecia chorar-me num sonho, sentada no ponto, na lonjura...

E horrível o choro de amor, tão dolorido...
É quase morrer de tanta dor, estar ferido.
É a morte, que corroi o homem, por dentro,
Se o homem não tiver sorte, chora, que o processo vai ser lento.

25 – 08 – 2012

domingo, 19 de agosto de 2012


19 – 08 – 2012

Assim que saio das barcaças, encontro o riso
Aquele teu ar doce e cultuado...
Tu ris, porque eu, eu sou teu amado,
E aquele barco, aquele barco é um aviso.

Não sei por que amargamente choraste...
Se sabias que logo eu estaria de volta,
Também senti tristemente tua falta,
Pelo meu nome, sei; que à noite, à virgem imploraste.

Não te esqueças que te amo, princesa...
Que minha volta, meu regresso é doce,
Sei que sou teu castelo, mas tu és a fortaleza.

Enquanto meu coração, agoniado se contorce
Tu tens toda... a mais pura das certezas
Que te amo e estarei sempiterno com você.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

UM CÂNONE DESORDENADO NO TUBO DE COLA

As venezianas compridas e íntimas entre si,
Descobrem a magia de mergulhar no consolo
E envernizar as cambraias do estofado
E descabelar os orangotangos tomadores de chá.

São cinco horas e a vertigem...
Atóis azigomáticos e desvantajosos,
E biscoitos no prato de vidro
Com a beirada quebrada.

E fome e quiromancia e astrologia:
As faltas do povo condecorado ao caos.
Sempiternas pernas balançantes
E couro seco do farol luzidio.

15 - 08 - 2012 




domingo, 5 de agosto de 2012

DOIS BELOS SANTUÁRIOS

   A cara raspada e manhã no começo. Uma certa estranhês naquela dia. Uma escuridão estranha, o dia era uma farsa; não havia cor nem luz. A cor é o ombro do dia, é a festa do balanço mal aconchegado e desemprego da morte. Maldição, a história já era para ter começado... as palavras são contadas e existe certa agressividade nelas. As palavras são como anêmonas que não estão presas. Um calor alegórico e sobreposto aos olhos desinformados. Uma névoa sedenta por nada mais que conselhos.
   Meu filho que não sabia que era adotivo veio me cumprimentar no começo da manhã. Decidi lhe contar o que deveria contar e nada mais. Não deixá-lo mais tapado e sem as devidas informações de onde realmente veio.Eu o amava, mas faltou-me ação... A cada segundo que passava, eu ia ficando nervoso e segundo-a-segundo decidia e me arrependia ao mesmo tempo. E também não sabia como lhe dizer.Porque quando se vê o porta-retrato com nós três, tudo é acreditável. Porém, tudo é condenável. O tudo é uma nova concepção e ele vai se dissipando na fruteira. Ele tem um sabor cristalino e soberbo dentro do mais íntimo estômago. E tem borbulhas como o Champagne. Tem o paraíso e Deus e o conforto de Deus e também a bíblia de Deus.
   É um dano à servidão humana, a recompensa de Deus. É uma trajetória já seguida e com caráter novamente experimental. E se aproxima da adoção. Quando criança, sempre pensava em como seria ser adotado. Como seria o Natal dessas crianças sem pai e nem mãe num orfanato. Talvez uma tarde chuva. Um desquitado semblante que, com tudo, se conforma.
   E, à medida que ele se aproximava de mim, eu sentia uma certa repulsão: um grande medo, uma ingratidão do mim mesmo. E nada mais se encaixava naquela manhã ensopada e com o rosto coçando. Mexi o chá com o dedo mesmo e fui me esquivando, procurei por outro assunto: sua escola. Enquanto ele falava sem saber que eu não escutava, eu ia folheando o jornal matinal. As manchetes soavam  como um pinçado numa corda de violino. E um rufar de tambores acontecia quando eu virava as páginas. Esperei, oportunista que sou, o momento certo, ele aconteceu...
   - Filho, preciso te contar uma coisa...
   - O que, meu pai?
   Abri minha boca, mas dela saiu apenas silêncio e depois um som estranho que eu nunca havia soado. Pois veja que me soei. Meu rosto dilatou a parecia ter nascido de novo. Nasci. Nasço. E isso me acontece com frequência. O nascimento é um novo todo dia (mas com isso perco meu tempo, porque disso o leitor já sabe). Senti um forte calor dentro do meu peito. E uma rápida falta de ar... Aquelas que se sente quando se vê o grande amor e se é necessário falar com ele. As palavras faltam e escasseiam. E dois belos descampados se assemelham no pé da montanha. Esquecendo que o movimento das mãos é descontínuo. E que o amor também. O Universo é descontínuo assim como a última hora deste dia insuportável... Mas a descontinuidade de tudo me consola, porque me acabo onde acabam meus dedos. E o fim sempre é contínuo, ele não se acaba porque sempre será fim. E o começo... bem, o começo pode ser essas minhas palavras desencorajadas, essas que tento falar ao meu filho. E que sempre recuo. Recuar é um tumor. Quando nada mais se pode fazer a respeito ou dizer, recua-se. Até que a sobriedade se torne contorno. O que é sobressair ao questionamento. E o questionamento é o tudo mais dispensável de se falar... não vale a pena. É o concurso da vida onde não existe êxito. Tudo torna-se paradoxal! Os caracóis, no jardim,criticam-se e se difamam. Enquanto  eu pensava em como falar ao meu filho que eu não era pai legítimo dele.
   E o jornal diário não me trazia qualquer tipo de informação nem de conselho. Foi desse modo que pensei em minha sociedade desnivelada como num pique-nique. E a quem eu socorro? E a quê ideais me submeto? As reabilitações dignas dos mais profundos contratos desfeitos... A poesia do café da manhã... O aviso sonoro do eco, que estou sozinho... Que ninguém mais pode fazer o que farei. A mãe de Mathias já saiu para trabalhar, ele não tem irmãos. Ela não queria contar... Mas acho que ele merece saber! Acho a verdade o último apelo. E talvez junto dela, aí sim, um aviso sonoro, uma absolvição dos pecados. E aquela nuvem branca caminhando sobre o céu estarrecido. O disparate e o vulto amedrontado do bebê que adotei e que escolhi como filho... Talvez também a maior das carências humanas. E dos baralhos abençoados por deus dos cassinos. Por isso o aviso sonoro... por motivo de que sou um homem salvo. Os jogos me salvam e com eles comprei esta casa. Mas não me salvo da verdade! Ela é presente... ela é a mãe do tudo. Sim, porque sem ela nem o tudo existiria. Naturalmente, ele se deixaria tudo e seria caos. Porque o caos tem uma certa imensidão e uma certa certeza. Uma incontável semeadura dos imortais compridos. E de crinas de unicórnios vestidos com macacões revestidos de estrelas. E de rodos e de tudo. E me revisto de coragem e consolo a mim mesmo.
   - Filho...?
   - O que foi, pai?
   - Bom dia na escola, meu filho!

04 de agosto de 2012 

terça-feira, 31 de julho de 2012

ABSTRATO

Ínfimo e saturado e resoluto do granito
És tocável ao coração e ao peito,
Levas contigo, teu simples jeito,
Que vai contigo à eternidade, ao infinito.

As decorações dos teus cabelos e madeixas
É cor de maravilha ou rubra escura,
Onde lamentas, no tijolo do tifo muro
E dos lamentos, obrigada, não te queixas.

A pálida cratera dos teus lábios carmim,
É a gruta selvagem das selvagerias,
De tudo aquilo que existe em mim.

Desde as humilhações até as amplas agonias,
Que me levam, frescamente, até o fim,
Na chama da fogueira tórrida da heresia.

22 de março de 2011