domingo, 11 de dezembro de 2011

A CRIAÇÃO

Presentes. Presentes.
Formidáveis presentes.

Presentes que joguei na beira do lago.
Fui-me obrigado:
Eram presentes inúteis
Que se desfaziam em pó
quando os pegava.
Eram fragmentos de poesia.
Eram migalhas que versos
Que eu escondia dentro de mim.
Possivelmente alguém irá recolhê-los.
Alguém, assim que eu morrer...
Jogará as cinzas de poesia no riacho mais próximo.

E sobre a minha tumba ornará com antúrios
E beijará meus lábios de morto
Enquanto meu amigo cachaceiro
Tocará em sua flauta
Uma melodia da fundo da renascença.
Este será seu presente,
Esta será sua presença,
Invadida,
Resolvida,
Por mim,
Assim,
Que morrer.

Um copo de vinho seco
Uma dose de uísque
Deveras um poderoso golpe na minha nuca.
Doravante um golpe em meu braço
Será diário.
Tem de ser diário.
Sobretudo quando meu braço vier a doer
E inchar,
E purgar um pus
Um pus sublime,
O cuspe de Deus.
Aquele pus não-amarelado,
Mas sim verde
Que escorre das baratas envenenadas
Em seus último momentos de vida.

E por conseguinte:
Em meu poema de funeral
Quero deixar pêsames e pesares
Sobretudo para mim...
Até porque eu sou o defunto,
Até porque eu sou o amadeirado com musk,
Até porque eu sou o filtro d'água
Que não mata a mãe terra.

Se quiser deixe os presentes sobre  o caixão,
Mas não espere que eu vá abri-los.


Poema de DIONÍSIO ODELI.
Escrito a 11 de dezembro de 2011.

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