terça-feira, 27 de dezembro de 2011

UM COMENTÁRIO SOBRE CLARICE LISPECTOR






    Muito mais do que uma escritora, uma filósofa existencialista! A mente brilhante de uma escritora capaz de resgatar pensamentos e sentimentos do fundo mais profundo da alma. Sua capacidade de excitar os momentos mais banais do cotodiano de cada ser pensante.
   Trata-se da minha escritora favorita. Ninguém mais igual a ela consegue me surpreender com aventuranças e linhas de raciocínio que fogem do clichê e do lugar-comum. Aquelas velhas "formulazinhas" inventadas por escritores já ultrapassados, que o soneto deve conter catorze versos e que o conto deve ser uma narrativa curta é muito respeitada por mim; no entanto, nos dias atuais é impossível manter uma moda do século XVI e XVII no Brasil ( e no mundo) e devido a isso surgiram escritores como ela que abandonaram tal modo arcaico e exibiram um método diferenciado, renovado, inovado de escrever livremente: "Assim como somos livres para pensa e "estamos condenados a viver em liberdade" devemos fazer a mesma coisa no papel e/ou na tela de um computador" - para que as gerações futuras vejam o nosso método de escrita e se orgulhem dele.
   Uma mulher, na maioria das vezes isolada, apenas tendo como companhia sua máquina de escrever, desvendou um mundo paralelo ao nosso dia-a-dia; ela projetou um formato diferenciado de pensamento com uma linguagem diferente e um diálogo mais humano do que homérico, diferenciando-a dos demais e fazendo-a merecer um Nobel (que jamais foi-lhe concedido).
   Nossa querida Macabéa (do romance "A hora da estrela") codifica o ser humano atual: indiferente aos acontecimentos mundanos, desvalorizado pelos sentimentos mais profundos tais como amor, amizade, carinho. O ser humano que vive diariamente numa grande cidade que não reconhece seus "filhos", ainda mais que não sejam dela (Macabéa é uma retirante nordestina); deste ponto pressupõe-se que se trata de um livro mais que literário, um livro sociológico. Uma obra que caracteriza o poder de anulação individual  por meio de grandes centro urbanos, traduzindo: A solidão em meio a multidão.
   Além de G.H. (do romance "A paixão segundo G.H.), que demonstra o abandono do amor, o abandono de uma caracterização histórica. Uma mulher filosofando em um apartamento logo após ter mordiscado um pedaço da barata que acabara de esmagar. Ela sente o sabor da linfa e vai saboreando momentos de sua vida.
   O caráter epifânico, aliás, em Clarice Lispector, é quase que obrigatório. É impossível dizer se a personagem é atéia, mas sabe-se que crê em algo superior (seja uma barata ou uma cartomante trapaceira.) e que se dispõem a entender os seus deuses e interrogá-los até que isso morre ou se perdem.
   É necessário dizer que quem deseja ler Clarice, deve ter muito cuidado para não se deixar impressionar pois o mergulho é profundo e irreversível. Existe algo nela que permite você ler muito mais do que um romance, mas uma bíblia reeditada, revista e diminuída para os dias de hoje. Simplesmente perfeita!


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