Comi aquela maçã o mais rápido que pude. Primeiro a casca: vermelha e cerosa e depois a parte carnuda. Sentia o sabor aos poucos, enquanto ia tremendo de horror. Aquela maçã: eis o pomo que envenenou tanta gente, que humilhou a humanidade, mas que acima de tudo saciava a minha fome. Eu simplesmente devorava aquela maçã. Minha saliva digeria aquela maçã. E fui avermelhando também. Imaginava a vida no "front", como deveria ser terrível.
Estávamos prestes a ser bombardeados e eu não sabia o que fazer. Estava embaixo de alguns escombros esturricados e os suprimentos estavam escassos. Ia morrer, e daí? A morte era melhor que a miséria.
Aquela maça tinha um gosto epifânico, ia invadindo o hálito e recobrindo o conhecimento. Desgastava o suor tão doloroso. Era um sofrimento mascar aquela maçã, eu sentia aquele cheiro, a textura e o movimento dela entre os meus dentes. As porosidades, a ardência que ela provocava na língua e o dever de engoli-la e ir descendo esôfago abaixo. Era uma maçã discriminada como outra qualquer que ia perder o seu brilho.
Decidi ignorar a guerra. Ela não me faria bem; desgastava o corpo e o físico humano. Ia deformando o psicológico com o seu poder de persuasão, meu psicológico ainda estava bem, meio raquítico... Mas estava bem. Minha competência privava o meu saber sobre esses conflitos...
Continua...
Escrito a 14 de julho de 2011
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