terça-feira, 13 de dezembro de 2011

MURIÇOCA


02 de abril de 2011
            Não me lembro nada mais além do meu serviço como poeta dentro do jornal que comecei a trabalhar logo cedo, com treze anos. Meus primeiros versos foram aos oito, mas versos mesmo escrevia aos doze, treze. Comecei a ler poesia de grandes autores franceses e nacionais. Não se despreza uma poesia ou verso se quer. Minha visão poética era determinada pelo espírito da poesia. Se o poeta chorava quando escrevia, eu chorava enquanto lia. E meus olhos se enchendo de água até estourar um choro duro e melancólico. Meus pais eram assim: minha mãe escrevia poucos versos, pois não tinha muita instrução e meu pai chorava muito quando lia as poesias da minha mãe, e era uma espécie de sentimentalismo entre os menos afortunados: a minha família.
            Quando meu pai leu meu primeiro poema, não gostou. Achou pobre e sem rimas. Era um poema que parecia ter sido copiado dos outros poetas todos de minha época. Fiquei aflito ao meu segundo. Abri um sorriso. Meu pai disse que havia ficado melhor do que o primeiro. A partir do meu quinto poema, que foi um soneto, meu pai disse que não precisava mais ler meus poemas, eu já era maduro o suficiente para escrever minhas poesias para mim.
            Escrever poesias para si... Eis o foco dos grandes escritores. Escritores de renome internacional se definhavam a escrever para si mesmos, queriam as grandes obras, versões definitivas e movimentos esplendorosamente europeus. Eram já velhos e ainda não sabiam ler um poema decentemente, pelo menos assim meu pai falava. E escrevi um lindo soneto numa sexta-feira à tarde. E fui correndo até o jornal mais importante da cidade. O editor-chefe olhou, olhou e nada me falou. Ergueu as grossas sobrancelhas:
            - Achei muito boa sua poesia. Mas não há espaço para publicarmos seu trabalho aqui. Temos uma pequena coluna para poesia.
            Sentei-me num banco do jornal e peguei uma folha de papel da mesa do editor-chefe, peguei o tinteiro dele e reescrevi o poema em forma de soneto inglês, totalmente condensado e próprio para caber no jornal dele. Ele me elegeu o novo diagramador do quadro de poesias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário