quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

MURIÇOCA (PARTE II)

            - Se você trabalhar muito, terá uma coluna de poesia somente para você. Meu poema foi publicado na manhã seguinte. Minha mãe mal se conteve ao ver meu trabalho ali, de forma tão especial. As letras da coluna de poesia eram diferente das do resto do jornal. Tinham um ar gótico, eram muito trabalhadas. Quem fazia essas letras era um tipógrafo alemão, que se tornou muito meu amigo, tal de Becker.
            Ele foi quem me apoiou a escrever mais. Quem sabe escrever uma crônica? Fiquei uma noite toda tentando escrever uma boa crônica. Fui infeliz, meu negócio mesmo era poesia. Era o verso. Era preencher meu vazio com o verso.
            Por eu ser magro e baixo, como meu pai, fui apelidado pelo pessoal do jornal de muriçoca, uma espécie de mosquito menor que de costume. E foi certa vez que veio um rapaz de minha idade...
            - Com licença, você poderia publicar este poema?
            Eu o olhei com todo o carinho. Meus olhos foram se enchendo com toda a lembrança de minha infância. Era um lindo poema de amor.
            - Quero que você dedique à Luísa Marcelos Vieira, por favor.
            - Sim, posso publicar no jornal de depois de amanhã? Que o de hoje já tem um poema na frente e o de amanhã é meu.
            - Claro que pode.
            - Muito obrigado.
            Assim que o poema do rapaz saiu, moços da cidade toda vieram publicar poemas seus no jornal. Virou uma espécie de frenesi. Cada rapaz vinha com seu manuscrito em mãos, eu lia e publicava quando podia. O editor-chefe, então, foi conversar comigo:
            - Senhor Heitor, acho que o senhor merece uma coluna somente para si.
            - Não, quero ficar onde estou. Quero publicar o poema para esta gente. Eu tenho espaço na coluna uma vez por semana e está ótimo para mim.
            - Não esqueça, Heitor, que não somente enamorados querem publicar seus trabalhos, mas sim os outros também. Ouvi umas reclamações a respeito do senhor, pelos poetas mais velhos.
            - Jornal nunca foi tão bem vendido antes, como é agora, senhor.
            - Eu sei, senhor Heitor, mas quero os velhos leitores e publicadores de volta também.
           

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